Região
Trofa espera pelo Metro há 20 anos. Presidente da Câmara culpa Marcelo.
O movimento “Metro até à Trofa já” exigiu hoje ao Governo o cumprimento do memorando de entendimento sobre o desenvolvimento da rede do Metro do Porto, quando se cumprem 20 anos de espera pela chegada daquele transporte ao concelho.
A população da freguesia de Muro assinalou hoje, numa cerimónia junto à antiga estação do comboio desativada pela promessa de chegada do metro, as duas décadas de espera, tendo o movimento lido uma carta aberta, a que a Lusa teve acesso, onde recordaram os vários episódios e reveses do processo que, a ser concluído, faria a ligação entre o Instituto Superior da Maia e a Trofa.
O documento é dirigido ao primeiro-ministro, António Costa, e aos presidentes do Conselho Metropolitano do Porto, Eduardo Vítor Rodrigues, e do Conselho de Administração da Metro do Porto, Tiago Braga.
O porta-voz do movimento e também presidente da Junta de Freguesia de Muro, José Fernando Martins, explicou o que a população perdeu nos últimos 20 anos com a desativação da linha estreita do comboio.
“Para além de perder mobilidade, isso teve implicação noutras situações (…) Houve uma expectativa de investimento no ramo imobiliário, houve famílias que chegaram a comprar casa, mas que depois desistiram, o que fez com que hoje exista uma série de edifícios devolutos que poderiam ser recuperados, mas as pessoas não vêm porque não têm transporte público”, descreveu.
Da população para o setor empresarial, tão importante no concelho, o autarca assinalou que “o desenvolvimento das zonas industriais da Carriça e de Lantemil acabou por ficar limitado devido ao fluxo muito grande de carros particulares na Estrada Nacional 14”, que atravessa o concelho.
Na carta, o movimento expõe os argumentos para que a linha de Metro chegue à Trofa, começando por exigir o cumprimento, pelo Governo, do memorando de entendimento subscrito pelo Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações e pela Junta Metropolitana do Porto, em 21 de maio de 2007, e que assegurava a ligação ao interface ferroviário da cidade da Trofa por parte das populações que residem na parte sul do concelho da Trofa e parte norte do concelho da Maia.
Querem também que fique assegurada a “ligação ao Centro de Formação Profissional da Indústria da Construção Civil e Obras Públicas do Norte, que recebe milhares de jovens e adultos, candidatos a emprego qualificado, promovendo a inserção no mercado de trabalho”, bem como “a ligação em complementaridade com a rede concelhia de transportes intermodais do concelho da Trofa, desenvolvidos em articulação com a MOBIAVE e a Área Metropolitana do Porto, às várias zonas industriais do concelho da Trofa e Maia”.
Sublinham os signatários que estes dois concelhos do distrito do Porto “detêm das maiores empresas exportadoras do país”.
“Assegurar a ligação ao interface rodoferroviário da Trofa, promovendo a mobilidade dos movimentos pendulares entre os concelhos da Maia, Trofa e Santo Tirso com ligação a Guimarães e Famalicão”, no distrito de Braga, e otimizar os “fundos estruturais previstos para o próximo quadro comunitário e Plano de Resolução e Resiliência na concretização de uma obra que potencie uma mobilidade mais sustentável” são também argumentos do movimento.
A intenção do prolongamento do Metro à Trofa, inicialmente denominada por Linha T, existe desde 1999 com término na Estação da Trofa, sendo aproveitado o canal de comboio existente (Linha Porto – Guimarães).
O presidente da Câmara da Trofa, Sérgio Humberto, culpou hoje o Presidente da República, o parlamento e os governos dos últimos 20 anos pela não chegada do metro ao município, assegurando que não falta dinheiro, mas vontade política.
Em declarações à Lusa no dia em que se comemoram 20 anos do encerramento da linha do comboio até à freguesia do Muro, na Trofa, para a instalação da então denominada Linha T, que faria a ligação entre o Instituto Superior da Maia e a Trofa, o autarca social-democrata criticou também os argumentos “falaciosos” da empresa Metro do Porto.
Considerando que “durante 20 anos a diplomacia não funcionou”, Sérgio Humberto afirmou ser hoje “o primeiro dia de uma nova etapa [da luta pela chegada daquele meio de transporte] e que vai começar a ter ações à moda da Trofa”, definindo-as como “ações mais populares, mais envolventes, envolvendo milhares de pessoas [nas ruas em protesto]”.
Para o autarca, quem fica a perder com inexistência da ligação à Trofa é a “região Norte do país”, argumentando tratar-se do “maior corredor nacional de exportação” que abrange o “Porto, Maia, Trofa, Vila Nova de Famalicão e Braga e uma área fundamental de entrada na zona Norte da Área Metropolitana do Porto, pelo que a região entre Douro e Minho fica a perder”.
Apontando a quem falhou neste processo de duas décadas, o autarca não poupou nas críticas nem nos argumentos.
“Falhou o Presidente da República, porque se nascer uma abóbora de 60 quilos no Entroncamento, com todo o respeito que tenho pelo Entroncamento, ele vai lá e faz notícia, mas, em contrapartida, tem medo de vir à Trofa por haver manifestações em prol de uma população e de uma região que merece a vinda deste transporte público, e muito mais em pleno século XXI”, disse Sérgio Humberto.
Para o autarca, também “falha a Assembleia da República porque, ainda há pouco tempo, foi aprovada uma resolução, que mereceu a unanimidade dos partidos, de que quando houvesse dinheiro na Metro do Porto a primeira prioridade era o metro até à Trofa” e, neste momento, “decorrem obras acima dos 300 milhões de euros no metro do Porto” e a ligação à Trofa “continua a ficar para trás”.
“Falharam os sucessivos governos porque andaram a mentir à população, o que não dignifica nem o nosso sistema democrático nem quem faz a arte nobre de fazer política”, concluiu, referindo que, por exemplo, Ana Paula Vitorino, secretária de Estado das Infraestruturas [do governo do PS], foi à “Trofa em 2009 anunciar o lançamento do concurso” e “meses depois anulou o concurso”.
No mesmo ímpeto, o autarca colocou o problema à escala nacional, garantindo que também “Portugal fica a perder, porque esta zona é altamente produtiva, altamente exportadora, contribui fortemente para o Produto Interno Bruto e, portanto, é lamentável que não tenha havido vontade política, porque dinheiro existe”.
Para justificar esta afirmação, Sérgio Humberto argumentou que “só o dinheiro resultante do aumento da taxa geral de resíduos, que em junho de 2021 passou de 11 euros por tonelada para 22 euros, chegava para trazer o metro até à Trofa”.
“Existindo dinheiro do Plano de Recuperação e Resiliência e ainda do PT 2020 e PT 2030 não se pode dizer que [a falta de] dinheiro seja a desculpa, as desculpas agora são os Estudos de Viabilidade Económica e que são dadas pela Metro do Porto e pelo ministério. Isto é falacioso”, criticou o autarca.
E acrescentou: “Dizem que até 2030 vamos ter Metro na Trofa, 2030 é tarde. A população desta região não pode esperar mais, nem quatro, nem cinco nem oito anos. Não baixaremos os braços até o metro chegar ao centro da Trofa”.
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