País
Sardinhas estiveram a 22 euros a dose no São João do Porto com filas de 50 metros
Filas de 50 metros para comer sardinhas a 22 euros a dose, marcaram o final de tarde do dia em que a festa do São João voltou às ruas do Porto, sempre ao som dos martelinhos.
Ao final da tarde, as Fontainhas, “coração” da maior festa portuense, mostrava com exuberância o regresso das pessoas aos festejos, já muito pontuado pelo cheiro intenso da sardinha assada e por cada vez mais pessoas acorrerem ao local sobranceiro ao rio Douro.
Nos três restaurantes, alinhados, um denominador comum: nenhum apresentava no cartaz o preço das refeições, detalhe que Francisco Alves, dono do restaurante Lavrador, disse “não ser estratégico”, invocando outros argumentos.
“Estou a vender a dose da sardinha a 22 euros. São dez sardinhas com batata cozida ou a murro. E o restaurante da ponta está a fazer o mesmo preço, já o do meio, vende cinco euros mais barato. Sabe qual é a diferença? É que as minhas são frescas e as dele são congeladas. Quem quer qualidade paga”, disse.
E numa conversa com mais números, disse que “o almoço já correu muito bem” e que de manhã “recebeu mais 20 caixas de sardinhas”, admitindo algum receio em “não conseguir vender tudo hoje”.
“Estou há 33 anos na noite de São João”, resumiu antes de voltar para o trabalho, pois a tenda estava cheia e a fila começava a engrossar.
Numa dessas filas, Mariana Gonçalves, de Viseu, a viver no Porto “há pouco tempo e, por isso, a experimentar, pela primeira vez as emoções do São João”, aguardava num grupo de amigos a sua vez para entrar e degustar a sardinha.
“As expetativas são grandes, todos dizem que é das melhores festas. Vivi seis anos em Lisboa e quero comparar com a festa do Santo António, que conheço bem”, contou, antes de partilhar os conselhos de quem vive no Porto: “viemos cedo para comer porque foi o que me disseram para fazer”.
Na mão do grupo dois martelinhos, também comprados não por conselho, “mas porque disseram ser obrigatório”, disse, antes de um amigo completar: “tal como a cerveja”.
A figura de São João, nas Fontainhas, é também passagem obrigatória, pelo menos para os crentes, e David Santos, dos Salesianos do Porto, têm, por estes dias, a missão de vender velas a quem quiser pagar promessas.
“Tem havido gente a querer comprar velas para pagar promessas e depois há as outras quem vem por arrastamento”, disse de um negócio de fé que tem um preço simpático: “cada vela custa 50 cêntimos”.
Num palco diferente, mas igualmente simbólico, Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, e Rui Moreira, homólogo do Porto, encontraram-se às 18:00 no tabuleiro superior da ponte Luiz I para recuperar a tradição interrompida pela pandemia da covid-19.
Em registo descontraído, abraçaram-se, trataram-se por tu e o autarca de Gaia ofereceu o livro do Roteiro de Vieira da Silva, da exposição organizada pela Câmara de Vila Nova de Gaia ao colega do Porto.
Rui Moreira falou de uma “tradição que o rio une” enquanto, brincalhão, Eduardo Vítor Rodrigues, insistiu em assinalar que o encontro foi exatamente a meio da ponte.
“Estamos perfeitamente centralizados para que ninguém diga que o meu amigo Rui Moreira está a tomar conta de Gaia e eu a caminho do Porto”, contou, entre sorrisos.
Minutos depois ambos recuperaram o trajeto anterior, rumando cada um para a sua cidade enquanto lá em baixo, defronte da Ribeira do Porto, 10 caixas a flutuar no rio “anunciavam” o local onde a partir da meia-noite sairá o fogo-de-artifício, outro momento alto para quem vive a festa como sua.
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