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Serviço Nacional de Saúde tem 90% das camas ocupadas

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A Sociedade de Medicina Interna advertiu hoje que o Serviço Nacional de Saúde não tem folga para uma pandemia da dimensão da atual, defendendo que o Estado deve recorrer aos privados para evitar mais atrasos nos doentes não-covid-19.

“Não se consegue fazer cirurgia programada, fazer exames de rastreio, todas as situações desse género e, ao mesmo tempo, ter camas suficientes para tratar os doentes covid e não covid”, afirmou em entrevista à agência Lusa o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), João Araújo Correia.

O médico internista adiantou que existe “um défice enorme de camas”, exemplificando: “se na altura de uma gripe normal, os serviços de medicina invadem os serviços de cirurgia e têm cerca de 30% de camas a mais, imagine-se numa pandemia”.

Agora, sustentou, “com uma taxa de ocupação das camas de cerca de 90% no global, não há folga que permita acomodar uma pandemia desta dimensão”.

Para João Araújo Correia, a “pandemia deve ser uma obrigação e uma necessidade” de se tratar no Serviço Nacional de Saúde, mas “claramente não tem espaço para tudo”.

“É evidente que não podemos deixar de fazer a via verde AVC, as trombectomias, o trauma, a cirurgia de urgência. É evidente que isso não pode fechar nos grandes hospitais”, mas, acrescentou: “não podemos ter camas para colonoscopias ou para fazer exames ou para fazer cirurgias programadas que se devem fazer no seu tempo certo, porque às vezes até podem comprometer as situações. Mas isso pode fazer-se no setor privado”.

No seu entender, “os doentes covid graves ou moderadamente graves têm que ser tratados nos hospitais do SNS”, mas lembrou que até antes da pandemia houve uma redução contínua de camas. O país tem metade das camas existentes por 100 mil habitantes na Alemanha, por exemplo, e “bastante menos do que a média da Europa”.

Portanto, tem de se assumir que não há camas suficientes para todos, reiterou, defendendo ser urgente recorrer ao setor privado para que “não haja mais atrasos nos doentes não-covid”.

O especialista sugeriu que equipas médicas dos hospitais públicos que perderem as suas camas para “o esforço covid” e que ficaram como menos trabalho poderiam ir operar ao privado e haver “uma espécie de aluguer do espaço”.

“Isso é que me parece que seria inovador, e seria realmente imaginativo e uma verdadeira cooperação entre os dois setores, porque eu acho que realmente é preciso chegar à conclusão de que todas as camas são precisas do setor público e do setor privado”, defendeu.

“Vamos libertar as camas dos hospitais [do SNS] para que realmente a gente possa tratar o melhor possível de uma pandemia avassaladora que todos ansiamos que chegue o pico, mas não sabemos quando é que o pico chega e quando é que realmente a curva começa a achatar”, apelou.

Para o especialista, a comunicação tem de ser verdadeira: “as pessoas têm de entender que, de facto, nós não temos capacidade para tudo, não porque tenhamos um Sistema Nacional de Saúde fraco, pelo contrário, temos um Sistema Nacional de saúde fortíssimo, muito melhor que a maior parte dos países (…) mas não temos folga”, lamentou.

António Araújo Correia disse ainda que “a pandemia também levantou claramente a noção de que os privados em grande parte são edifícios”, às vezes com muitas camas, mas que não têm pessoal próprio, nomeadamente médicos e enfermeiros.

“O pessoal é o mesmo, médicos e enfermeiros que pululam e que saltitam entre o privado e o público e isto dá-se muito conta nas pandemias e não devia ser assim”, lamentou.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,2 milhões de mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 2.694 em Portugal.

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