A indústria têxtil e do vestuário prepara-se para fechar 2022 com um volume de exportações recorde próximo dos 6.000 milhões de euros, bem acima do máximo alcançado no ano passado (5.419 milhões), mas os empresários do setor estão preocupados. É que parte desse acréscimo deve-se à subida de preços por efeito da inflação e as novas encomendas estão a travar desde o verão, com os clientes receosos de uma recessão.
Em declarações ao jornal online Eco, o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) salienta que um crescimento de dois dígitos nas vendas ao exterior “é sempre impactante”, mas, se até julho, o crescimento neste indicador estava próximo dos 18% face ao nível pré-pandemia (2019), a partir daí “houve uma forte desaceleração”. Mário Jorge Machado atesta que nesta segunda fase do ano – “normalmente são meses bons para a exportação”, recordou – as compras à indústria amainaram o ritmo “devido ao efeito da guerra e antecipação de alguma recessão que vai existir na Europa, nomeadamente na Alemanha”.
“Claramente, os empresários estão a antecipar uma diminuição da procura e um próximo ano difícil”, resume Mário Jorge Machado.
O último inquérito realizado pela Federação Internacional dos Fabricantes Têxteis (ITMF na sigla inglesa), que a ATP integra, comprova que as perspetivas de negócio desta indústria, a nível global, continuaram a deteriorar-se em novembro, com uma quebra nos indicadores de encomendas e na taxa de utilização da capacidade instalada, em particular nas fiações.
A única boa notícia é que, por via dessa menor procura por parte dos consumidores, dos tecidos aos cabides, os custos dos materiais, que aumentaram a dois dígitos no último ano e meio, vão acabar por baixar.
Depois de dois anos em que a pandemia dominou as atenções da indústria têxtil e do vestuário, forçando-a a “reinventar os negócios de forma a sobreviver”, as empresas do setor enfrentam agora as “consequências trágicas” da guerra na Europa que têm um “impacto profundo” na indústria, ao nível das cadeias de abastecimento e distribuição, dos custos da energia, da inflação ou da subida das taxas de juro, além da queda no consumo que aí vem.
O alerta foi lançado por Mário Jorge Machado, reeleito presidente da ATP até 2024, na abertura da convenção europeia do setor, que decorreu em outubro, no Porto. O dirigente associativo avisou que este “cenário de crise profunda (…) ainda vai piorar antes de melhorar”. E, invocando experiência passado do setor, sentenciou que “sabemos que vai causar uma enorme purga nos negócios, permitindo apenas aos mais capazes sobreviver”.