O concelho da Trofa continua sem ter definidos os limites na fronteira com Santo Tirso 25 anos volvidos sobre a sua criação como concelho, um problema engrossado por indemnizações reclamadas pela alegada venda ilegal de terrenos pelo concelho vizinho.
O concelho da Trofa, a par de Odivelas o mais novo do país, cumpre hoje um quarto de século imerso no facto de a vontade de continuar a crescer estar condicionada por questões territoriais por definir, numa equação que o presidente da câmara local entende prejudicar os dois municípios.
“Temos vários processos em tribunal devido à gestão de anteriores executivos da autarquia de Santo Tirso, como é o caso dos limites do município, que não estão definidos, e de terrenos que foram vendidos [por Santo Tirso] a privados entre o dia em que foi aprovado na Assembleia da República, a 19 de novembro de 1998 – a criação do concelho – e o dia em que saiu em Diário da República, em meados de dezembro”, relatou Sérgio Humberto para quem a venda feita neste período terá sido ilegal.
Precisando que a câmara “não quer um centímetro quadrado de território que não seja seu por direito“, aponta mentalmente no mapa o centro da discórdia com Santo Tirso, assinalando Ervosa, que para os tirsenses é Fontiscos, para dizer que “85% daquela zona industrial pertence à Trofa”.
A conversa avança para a construção do edifício dos Paços do Concelho, inaugurado em 2022, à procura da explicação sobre o tempo que demorou a sua construção: “houve várias oportunidades para construir nos primeiros anos do concelho, e até houve fundos comunitários para tal, o problema era a sua localização. Faltou coragem para decidir”, assinalou.
Num desses casos, confirma o autarca social-democrata, “entre 2005 e 2009, a câmara recebeu um milhão de euros do Estado para a sua construção, no então mandato de Bernardino Vasconcelos (PSD), mas teve de os devolver porque a obra não foi executada”.
“A obra era comparticipada em 85% por fundos comunitários, mas uma opção estratégica à beira das eleições adiou a sua construção”, contou Sérgio Humberto.
Problema diário na Trofa é o trânsito na Estrada Nacional (EN)14, que atravessa o centro da cidade na ligação do Porto a Braga. Segundo Sérgio Humberto, a “conclusão da variante à EN 14 [que está em fase de concurso] vai catapultar ainda mais o desenvolvimento num concelho fortemente industrializado”.
E quanto à colaboração no futuro com o município vizinho, Sérgio Humberto tem uma certeza: “as relações com o atual presidente de Santo Tirso [Alberto Costa] são as melhores, exemplo disso foi a conclusão este ano da transferência de processos de obras particulares que estavam há 24 anos naquele concelho”.
Mais contido quanto ao futuro, Manuel Silva, que integrou a comissão promotora que há 25 anos conseguiu a criação do novo concelho, fez à Lusa uma resenha do tempo que passou, destacando que o “mundo mudou mais” do que a sua terra, atribuindo-o a vários fatores e intervenientes.
A chegada do metro à Trofa, uma espera de mais de 20 anos e que se prevê venha a estar em obra em 2025, é um dos processos apontados pelo antigo membro do movimento. “A nossa maior incapacidade foi não conseguir forçar a administração central a cumprir os seus compromissos relacionados com a chegada do metro à Trofa, sendo que o que está previsto não responderá às necessidades da população”, criticou.
Com o problema do trânsito a reocupar o centro da conversa, Manuel Silva diz que a “administração central tem grandes responsabilidades no que se passa na Trofa, nomeadamente na EN 14 e EN 104, cuja construção das variantes foi assumida pelo então primeiro-ministro, Cavaco Silva, na resolução 43/90, de 09 de novembro, do Conselho de Ministros, mas volvidas décadas esse compromisso só agora foi assumido”.
“Há 25 anos era um concelho onde faltava tudo, pois Santo Tirso absorvia grande parte dos investimentos. Sentia-se uma injustiça enorme. Hoje é bastante diferente, mas as perspetivas iniciais da comissão promotora e das pessoas era que houvesse um salto rápido de desenvolvimento e coesão das oito freguesias”, lembrou o antigo membro do PS local.
Olhando para o futuro, Manuel Silva elenca duas coisas que precisam de mais atenção: “a coesão territorial e mais políticas associadas ao desenvolvimento cultural, para proporcionar às pessoas o que já há nas grandes cidades”.