Eduardo tem 28 anos ‘de casa’ na fábrica de Braga da alemã Bosch e Susana já lá trabalha há 23, tendo ambos sido agora surpreendidos com “aumentos salariais de 0,0%”, disseram em dia de greve na empresa.
Queixam-se que a empresa está a discriminar os trabalhadores mais antigos, já que ao mesmo tempo que os “congela” atribui “aumentos, em alguns casos simpáticos” àqueles que “ainda mal aqueceram o lugar”.
Segundo Sérgio Sales, do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte (Site-Norte), na mesma situação de Eduardo e Susana estão mais de 200 trabalhadores com mais anos na multinacional alemã de Braga.
Hoje, os trabalhadores da Bosch Car Multimedia estão a cumprir um dia de greve, em resposta aos “escassos aumentos salariais” e “à gritante discriminação” na sua aplicação.
“Há uma grande revolta e uma enorme mágoa dos trabalhadores que há largos anos dão tudo pela empresa e que agora foram surpreendidos com aumentos salariais de 0,0%, enquanto ao lado há outros bem mais novos na empresa que fazem exatamente o mesmo e que vão levar em alguns casos mais de 100 euros para casa no final do mês”, referiu Sérgio Sales.
Para o sindicalista, não estão em causa os aumentos salariais dos mais novos, que considera “merecidos e insuficientes”, mas sim a “discriminação” daqueles que lá trabalham há décadas.
“Esquecem-se que quem levantou esta fábrica foram os mais velhos, não os mais novos. Trabalho em laboração contínua, sete dias por semana, não tive rigorosamente nada de aumento. É um enorme sabor a injustiça e a ingratidão”, referiu Eduardo Braga, que ganha 954 euros por mês.
Da mesma forma, Susana Esteves, com 23 anos de casa e um salário de 920 euros, também ficou “triste” quando soube que não ia receber “nem mais um cêntimo”.
“Com tudo a subir, não temos aumento nenhum. Congelam-nos e não nos dão qualquer explicação”, criticou.
A Lusa contactou a Bosh/Braga, mas a administração não quer, “para já”, fazer qualquer comentário.
O Site-Norte sublinha que em causa está uma “multinacional, com mais de mil milhões de faturação no polo de Braga, que recebe, habitualmente, dinheiros públicos” e que “insiste em desconsiderar quem lhe produz a riqueza”.
Lembra que, face à perda de poder de compra, os trabalhadores veem os seus rendimentos “mingar a cada mês”, assim como assistem a “uma aberrante desvalorização das carreiras, da dedicação e experiências acumuladas.
O sindicato dá ainda conta de que “os horários desregulados, os ritmos intensos de trabalho, a retirada de direitos às novas gerações, os baixos salários praticados e a pressão exercida sobre os trabalhadores tem não só afastado trabalhadores da empresa, como desgastado quem, com mais ou menos tempo de casa, sempre zelou e pautou o seu trabalho com profissionalismo”.