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Covid-19: Médicos de família alertam para “caos absoluto” nos centros de saúde

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 A procura das Áreas Dedicadas a Doentes Respiratórios (ADR) aumenta quase ao ritmo dos casos de covid-19, uma situação que preocupa a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, que alerta para o “caos absoluto” nos centros de saúde.

“O que se passa neste momento é que temos muitos casos a aparecer todos os dias, muitos deles com sintomas que exigem observação presencial e, portanto, aumenta muito a afluência aos ADR”, espaços destinados à avaliação clínica dos doentes com suspeita de infeção respiratória aguda, incluindo covid-19, disse à agência Lusa o presidente da associação, Nuno Jacinto.

Durante toda a manhã e início da tarde de hoje, a fila de pessoas para serem atendidos no ADR que funciona no Hospital de São Lázaro, em Lisboa, chegou quase ao Martim Moniz, mas houve pessoas que foram desistindo devido às horas de espera, ao frio e à chuva.

Um utente disse à Lusa que chegou cerca das 10:00 ao Hospital de São Lázaro e cerca das 14:30 ainda tinha perto de 20 pessoas à sua frente para ser atendido.

O utente contou que realizou na segunda-feira um teste que deu positivo. Após ter conhecimento do diagnóstico, tentou contactar a Linha SNS24, o que só conseguiu nove horas depois de inúmeras tentativas de contacto.

Após ter relatado ao técnico dores de cabeça e de garganta, recebeu posteriormente um SMS para se dirigir ao ADR para ser observado.

Disse ainda que ficou alarmado quando viu a fila compacta de pessoas, umas com sintomas de covid e outras com teste negativo, mas que precisavam de ser observadas.

Foi o caso de outra utente que também realizou um teste na segunda-feira, mas que deu negativo. “Tinha dores de garganta, fui ao Centro de saúde e enviaram-me para aqui porque me disseram que não estão a ver os doentes, contou.

Questionado sobre esta situação, o médico de Medicina Geral e Familiar Nuno Jacinto afirmou que os centros de saúde já estão “numa situação de caos absoluto”.

“Os ADR da comunidade continuam a funcionar, na esmagadora maioria dos casos, só com os médicos, os enfermeiros e os administrativos dos centros de saúde e isso faz com que das duas uma: ou nós estamos nos centros de saúde a ver todos os outros doentes não-covid, que continuam a precisar dos nossos cuidados, ou literalmente abandonamos estes doentes e vamos para os ADR”, salientou.

“Não dá para fazer omeletes sem ovos, nem nós conseguimos estar em dois sítios ao mesmo tempo”, alertou, adiantando que os serviços estão a tentar responder a “um aumento enorme” do número de casos de covid-19 com a mesma resposta que usavam quando tinham 600 ou 700 casos por dia.

O presidente da associação realçou que “há muito tempo” que são necessários “mais profissionais e equipas dedicadas para esta função, porque de contrário a manta tapa de um lado e destapa do outro e, neste momento, já começa a destapar dos dois”.

Como tal, disse, acontecem situações de haver ARD com “imensa afluência” e quem lá está não consegue dar resposta.

“Depois temos instruções nalguns locais para maximizar esta resposta dos ADR, mas isso implica parar a atividade nos centros de saúde”, afirmou, defendendo que quem tutela deve “definir claramente” onde quer os profissionais e “assuma a responsabilidade dessa decisão”.

“Se nos dizem que temos que dar resposta aos doentes covid e se querem mais profissionais, por exemplo, nos ADR, então têm que assumir claramente que os outros doentes todos vão ficar para trás e que não terão as suas consultas”, vincou.

Apesar disso, os centros de saúde nunca pararam a sua atividade.

“Mas com todas estas atividades, com profissionais que também ficam em isolamento, com os centros de vacinação, com os ADR, com os telefonemas do Trace-covid, cada vez há mais doentes positivos que têm de ser vigiados e essa tarefa continua a ser nossa, e nunca mais se resolve também esta questão, o tempo disponível para os doentes não-covid é cada vez mais reduzido”, alertou.

Defendeu ainda que esta situação “não pode de todo ser imputada nem aos médicos, nem aos enfermeiros, nem aos administrativos dos centros de saúde”.

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