Para enfrentar a pandemia económica e social que irá dominar 2021, quando a pandemia “se for esbatendo”, o Presidente de República deixou uma mensagem de Natal em que apela a um “consenso alargado” e ao “reforço da coesão social”.
Na mensagem de Natal, divulgada através do Jornal de Notícias, Marcelo Rebelo de Sousa fala dos desafios que o país tem vivido e os que tem de enfrentar em 2021, afirmando “há e deve haver um outro olhar para o Natal de 2020”, o que implica uma visão de médio prazo.
“O Natal de 2020 é vivido com duas pandemias simultâneas e com dramática vivência de agravados fossos sociais. E esta junção de crises converte este Natal num terreno nunca experimentado”, sublinha.
No seu entender, “o mais urgente é olhar para o Natal de 2020 com uma visão de prazo mais curto – evitar que ele crie condições objetivas para um arranque negativo ou muito negativo de 2021”.
“Tudo o que pudermos fazer para acautelar as semanas e os meses mais próximos, deve ser feito”, defende.
Para o chefe de Estado, “o consenso alargado para criar condições para um melhor arranque de 2021, em termos de pandemia sanitária, deve estender-se ao que vão ainda ser meses de surto e sua prevenção, enquanto a vacinação avança”.
Também deve estender-se “à preocupação com a pandemia económica e social que irá dominar 2021, em especial quando a pandemia sanitária se for esbatendo”.
“Consenso alargado, estabilidade, reforço da coesão social, existência de referenciais de confiança. Eis o que o Natal de 2020 exige de todos nós, portugueses, continua a exigir agora e continuará a exigir por mais algum tempo”, sublinha, na mensagem.
Marcelo Rebelo de Sousa lembra que, desde março, o país tem demonstrado estar à altura de tal exigência: “Não iremos esmorecer, nestes dias, por entre a alegria responsável do reencontro e a redescoberta do valor da esperança na resistência às dificuldades”.
“Já percorremos tanto caminho juntos e com inabalável determinação, que nada poderá levar-nos a deitar a perder o realizado”, sublinha.
No início da mensagem, o chefe de Estado começa por recordar momentos históricos difíceis que marcaram outros Natais.
“Portugal conheceu, na vida dos menos jovens, Natais em guerra. Recordam-no os de mais de 90 anos, do fim da sua infância ou começo da adolescência. Uma guerra lá fora, mas com constrangimentos cá dentro, por exemplo em matéria de abastecimento de certos bens ou ainda de algum sobressalto no início da década de quarenta”.
Lembra também os “Natais em crise financeira e económica e, decorrentemente, social” vividos pelos “menos jovens e mais jovens”, recordando a emigração de “um milhão de portugueses, entre o começo da década de 60 e 1974, e a continuar nas crises nos anos 70, 80 e segunda década do século XXI, diversas entre si, mas todas determinando intervenções internacionais”.
Aludindo ao Natal de 2020, afirma que “é uma realidade substancialmente nova”: “É passado em pandemia. A pandemia atingiu-nos há dez meses. Apesar da esperança nas vacinas, ela está para ficar semanas e meses, ninguém sabendo ou podendo prever quantos”.
O Presidente alerta ainda para as “consequências psicológicas das pandemias, na mudança de comportamentos sociais, na alteração de relações comunitárias”.
“Na ausência de padrões comparativos que permitam medir o alcance e a profundidade do que se mudou, do que se alterou, do que vai ficar, do que irá partindo à medida que a pandemia se atenua e que a recuperação e a recriação económica e a correção das desigualdades se tornam visíveis”, vinca.
Mas, ressalva, “com hesitações, descontinuidades, tergiversações, todas elas dispensáveis e mesmo contraproducentes, o desafio é importante demais e o tempo premente demais, também ele, para comportarem outra coisa que não seja continuar o feito e acelerar o que, na mesma linha, há que fazer”.