O cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, defendeu hoje que “o problema ecológico” tem de ser levado “muito a sério”, considerando mesmo ser uma “questão prioritária” para que a natureza se possa recuperar e evitar novas pandemias.
Para o cardeal-patriarca, a Humanidade tem de lutar para que “as coisas não se degradem, antes pelo contrário, para que a natureza se recupere, que não haja mais pandemias e outros problemas que nascem aí, numa ecologia maltratada”.
A preocupação com a natureza é, no seu entender, uma das lições deixada pela pandemia de covid-19 que o mundo está a enfrentar.
“Se nós não cuidarmos com mais prontidão na nossa relação com a natureza, em geral, depois desta poderão vir outras e ficaremos todos menos bem guardados”, disse, frisando que “a questão ecológica é hoje prioritária para se resolver positivamente” estes problemas.
Questionado sobre as palavras do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na sua mensagem de Natal, em que apelou a “um consenso alargado” para enfrentar a pandemia económica e social que irá dominar 2021, quando a pandemia “se for esbatendo”, Manuel Clemente recordou a solidariedade a que se vem assistindo desde o aparecimento do coronavírus.
“Tudo aquilo que tem sucedido e felizmente acrescentado desde março em termos de solidariedade, não só na redobrada eficácia e presenças dos serviços dos profissionais dos diversos setores que mais diretamente respondem à pandemia, quer até da população em geral, com iniciativas muito bonitas da parte de gente mais nova e de gente mais idosa, de vizinhanças reencontradas, de apoio prestados de gratuitidade maior, eu creio que tudo isto nos vai garantir para o futuro uma maneira mais solidária, mais próxima e mais capaz de enfrentar os problemas”, adiantou.
Para Manuel Clemente, o país tem “realmente muitos problemas pela frente”, muitos deles causados pelo “isolamento forçado, que teve mesmo de ser assim, de tanta gente, sobretudo, de mais idade”, que deixa “mazelas” não só na mente, mas também no coração e no afeto.
O desemprego causado pela pandemia é “um enorme problema” que agora se levanta, salientou, defendendo que “são tantas as frentes de combate […] que só uma solidariedade reforçada como aquela que se foi ganhando nestes meses no pode garantir um bom futuro”.
A pandemia obrigou a mudanças na Missa de Natal, nomeadamente o tradicional beijo ao Menino Jesus no final da cerimónia, que deu lugar a uma vénia, o abraço da paz que não aconteceu e a Sé de Lisboa, outrora cheia, hoje tinha poucos católicos e todos de máscara.
Sobre com a Igreja Católica tem reagido a estas mudanças, o cardeal-patriarca afirmou que tem sido de “uma maneira positiva”.
“Desde março, reduzimos tanto as nossas atividades presenciais, tivemos que arranjar outras maneiras de chegar junto das pessoas e tanta coisa se fez” com o apoio da comunicação social.
Manuel Clemente lembrou que, quando foi a celebração da Semana Santa, nunca teve “tanta gente” consigo: “Foram dezenas de milhares de pessoas através dos media, mas não é a mesma coisa”, confessou.
“Fomos reinventando novas maneiras de atuar, também como na sociedade em geral, também nos deixamos de cumprimentar, de beijar e passamos a ser tratados de outra maneira”, disse, considerando que algumas dessas mudanças são saudáveis em termos de higiene e “vão ficar”.
“Não é por acaso que essas referências à diminuição da gripe este ano são constantes, porque também estamos mais resguardados e por isso infetamos menos os outros”, observou.
Durante a homília, o cardeal-patriarca lembrou os profissionais de saúde que se “desdobram no tratamento dos doentes”, os responsáveis de vários setores se “mantêm vigilantes e ativos para que a vida de todos se mantenha segura e sustentável” e os cuidadores que se desvelam para que não falte conforto aos idosos que não podem receber visitas.
Manuel Clemente recordou ainda os “refugiados e imigrantes forçados que têm inegável direito de ser acolhidos e respeitados em qualquer lugar onde cheguem”.