Até o Governo discutir os apoios ao setor, empresários da restauração do Porto iniciaram esta noite, defronte da Câmara do Porto, uma vigília por tempo indeterminado, disse hoje Branca Pereira, do Movimento das Mulheres pela Restauração.
Quatro dias depois de um grupo de empresários iniciar uma greve da fome diante do Parlamento, em Lisboa, “um movimento espontâneo de empresários fez nascer uma vigília por tempo indeterminado, na Avenida dos Aliados, até que o Governo olhe para o setor”, explicou Branca Pereira.
O “acampamento” ficará junto ao monumento a Almeida Garret, em cujos degraus foram colocadas dezenas de lamparinas acesas: “significam um grito de alerta, significa que queremos uma luz para este momento que estamos a viver, pois são milhares as mulheres que vivem da restauração e que muitas delas já perderam o emprego e outras vão perdê-lo”, disse.
Sobre a vigília, explicou Branca Pereira, vai funcionar “com seis empresários em permanência, no local, durante 24 horas, após o que serão revezados”, sublinhando que ficarão junto à Câmara do Porto “dia e noite o tempo que for necessário”.
Ainda que solidários com os colegas em greve de fome em Lisboa, a versão portuense do protesto não prevê inibição de alimentação, frisou a responsável do movimento feminino, apenas garantindo que a cada dia “seis empresários estarão no local 24 horas, dormindo em tendas”.
“Isto já deixou de ser um problema sanitário para passar a ser um problema social de grande escala. Diariamente, nos nossos restaurantes, temos milhares de pessoas a pedir comida. Faço parte de um grupo que há 25 anos ajuda sem-abrigo e, neste momento, já nem precisamos de ir para as partilhas, já temos quem venha até nós de restaurantes pedir-nos sopa, mostrando-nos que ainda não receberam o lay-off ou que o Governo ainda não pagou aos patrões”, acrescentou.
Questionada sobre o simbolismo das lamparinas, Branca Pereira foi taxativa: “se puséssemos aqui uma vela por cada mulher que está a precisar de ajuda na restauração, esta grande avenida não seria suficiente”.
Também na vigília e de mochila, pronto para o primeiro turno de 24 horas, Daniel Serra, presidente da Associação Nacional dos Restaurantes, explicou à Lusa a sua presença no protesto.
“Vamos estar aqui o tempo que for preciso. Até que haja uma solução que viabilize os restaurantes, pois o que se passa é que temos os restaurantes fechados, mas de porta aberta. Não estão a faturar. Não há clientes. Esta situação é um grito de revolta silencioso”, afirmou.
Nuno Fontes, também empresário, foi a voz mais crítica do que se passa com o setor por causa das medidas do Estado de Emergência, acusando o Governo de “não estar a ajudar”.
“Isto é uma forma de enganar a opinião pública. O Governo emprestou dinheiro a juros aos empresários”, continuou o empresário da restauração, para quem o que se “está a passar não faz sentido”.
“O Governo sempre recebeu os impostos que nós pagámos e, aqui chegados, não estamos a receber ajuda nenhuma”, criticou.
O Governo anunciou, na semana passada, as medidas de contenção da pandemia da covid-19 para o novo período de estado de emergência: nas vésperas dos feriados, o comércio encerra a partir das 15:00 em 127 concelhos do continente classificados como de risco “extremamente elevado” e “muito elevado” e mantêm-se os horários de encerramento do comércio às 22:00 e dos restaurantes e equipamentos culturais às 22:30 nestes concelhos e em mais outros 86 considerados de “risco elevado”.
No dia 14 deste mês, o ministro da Economia disse que o apoio excecional aos restaurantes dos concelhos abrangidos pelo estado de emergência para os compensar pela receita perdida nestes dois fins de semana acenderá a 25 milhões de euros e será pago em dezembro.
Os dados avançados pelo ministro indicam que dos 750 milhões de euros contemplados no programa Apoiar.pt – apoio a fundo perdido destinado a micro e pequenas empresas dos setores mais afetados pela crise com quebras de faturação superiores a 25% -, 200 milhões de euros serão absorvidos pelo setor da restauração.