O INSA detetou uma “subida abrupta” de uma das sublinhagens da variante Delta após a Latada de Coimbra, que se espalhou a 42 concelhos. O evento foi um “grande disseminador das infeções”.
O Instituto Ricardo Jorge associa a “subida abrupta” de uma das sublinhagens da variante Delta, que se manifestou em 42 concelhos, à Latada, a festa de arranque do ano letivo na Academia de Coimbra.
“Quando pedimos os dados às autoridades de saúde (…) verificámos que, não só as faixas etárias destas pessoas rondavam entre os 18 e os vinte e poucos anos, como eram estudantes universitários em Coimbra”, disse à Lusa João Paulo Gomes, investigador do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).
O especialista disse ainda que, de uma semana para a outra, esta sublinhagem da variante Delta do coronavírus SARS-CoV-2, “que estava muito pouco representada no país, passou a estar presente em 42 concelhos”.
“Além disso, em termos genéticos, vimos que os vírus eram praticamente todos iguais (…) significa que uma pessoa infetada num mesmo evento passou a infeção a muitas outras pessoas, que depois saíram desse evento e espalharam a infeção”, precisou.
João Paulo Gomes disse ainda que, tendo em conta que as datas de colheita foram no início de novembro (…), os investigadores associaram, “sem grandes margens para dúvida”, à Latada, em Coimbra, que aconteceu na última semana de outubro.
A Festa das Latas, ou Latada, decorreu no final de outubro, envolveu diversos eventos e manifestações culturais para dar as boas-vindas aos caloiros que acabam de ingressar na Universidade.
“Não há grandes dúvidas de que, de facto, [foram] estudantes académicos em Coimbra, infetados todos mais ou menos na mesma altura, com a mesma sequência genética do vírus e que, de repente, passaram a espalhar [a infeção] por 42 concelhos à volta daquela região”, sublinhou.
O especialista explicou ainda que este caso não é único, pois já em relatórios anteriores o INSA tinha detetado um outro evento com disseminação em massa, desta vez na região de Lisboa e Vale do Tejo.
“Estes eventos [onde ocorre disseminação descontrolada] que envolvem grandes massas populacionais e onde, todos sabemos, não vale a pena atirar areia para os olhos, não há utilização de máscara, nem distanciamento social (…), são os grandes disseminadores das infeções no nosso país”, concluiu.
Segundo o último relatório do INSA relativo à diversidade genética do SARS-CoV-2 em Portugal, a frequência relativa desta sublinhagem, que tem uma mutação num local reconhecido como potencialmente crítico para a ligação do vírus às células humanas, subiu de 1,4% para 7,6%.
O documento, divulgado esta semana, refere que foram detetados 58 casos até à data, abrangendo cinco regiões (com maior incidência no Norte, Centro e Lisboa e Vale do Tejo), 13 distritos e 42 concelhos.