O Presidente da República negou que a sua assumida fé católica tenha influência na avaliação que faz dos casos de abusos sexuais na Igreja, referindo que lhe “parece curto” as 424 denúncias conhecidas até ao momento.
Questionado pela RTP3, Marcelo Rebelo de Sousa explicou que se a fé católica tivesse influência no seu comportamento ou na avaliação que faz dos casos, não teria assinado “uma denúncia de ação ao mais importante dos bispos portugueses”.
Em 06 de setembro, o Presidente da República enviou à Procuradoria-Geral da República uma denúncia envolvendo, nomeadamente, o bispo José Ornelas.
“Depois dessa data, a Presidência da República foi contactada por vários Órgãos de Comunicação Social, para confirmar tal envio, o que naturalmente confirmou. A 24 de setembro, o Presidente da República confirmou a D. José Ornelas esse envio, já depois de este ter sido contactado pela Comunicação Social sobre este assunto”, segundo uma nota publicada no ‘site’ da Presidência da República.
À televisão pública, Marcelo Rebelo de Sousa garantiu não se sentir incomodado com as críticas dos partidos políticos sobre a mais recente polémica, surgida, depois de o Presidente afirmar não estar surpreendido com as 424 queixas de abusos sexuais contra crianças na Igreja Católica e considerar que não é um número “particularmente elevado” comparado com “milhares de casos” noutros países.
“Não sinto [incómodo]. A democracia é isso. Só sente incómodo quem é ditador ou quem quer uma ditadura. (…) A democracia é aceitar as críticas”, sublinhou.
Lembrando que não foi a primeira vez que falou sobre o número de testemunhos de abusos sexuais na Igreja portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que lhe parece “curto” para aquilo que pensa ter sido o “fenómeno” em Portugal.
“Não é uma desvalorização. É precisamente eu achar que, infelizmente, as minhas expectativas eram muito superiores. Ainda bem que ficou em 424 casos, mas é curto para já, curto para a expectativa e para o universo de pessoas que contactaram com isso”, sustentou.
O Presidente da República afirmou que o número de casos de abusos de menores validado pela Comissão Independente “não parece particularmente elevado face à provável triste realidade”, admitindo números “muito superiores” no país.
Numa nota publicada no ‘site’ da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa declarou que tomou conhecimento da validação de 424 testemunhos de abusos sexuais na Igreja em Portugal, anunciada pela Igreja Católica, e afirmou esperar que “os casos possam ser rapidamente traduzidos em Justiça”.
O Presidente da República já tinha comentado o número de testemunhos validado pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, com afirmações que suscitaram críticas de vários quadrantes políticos, nomeadamente do BE, IL, Chega, PAN e Livre.
Marcelo Rebelo de Sousa tinha afirmado não estar surpreendido com as 424 queixas de abusos sexuais contra crianças na Igreja Católica e considerou que não é um número “particularmente elevado” comparado com “milhares de casos” noutros países.
“Significa que estamos perante um universo de pessoas que se relacionou com a Igreja Católica de milhões ou muitas centenas de milhares”, acrescentou o Presidente da República, concluindo: “Haver 400 casos não me parece que seja particularmente elevado, porque noutros países e com horizontes mais pequenos houve milhares de casos”, tinha afirmado Marcelo Rebelo de Sousa, Na rede social Twitter, o líder parlamentar do BE começou por considerar “um insulto às mais de 400 vítimas” as “miseráveis declarações” do Presidente da República sobre este número de queixas de abusos sexuais na Igreja, defendendo que não esteve “à altura” do cargo.
Já a Iniciativa Liberal, através da sua página oficial, lamentou “profundamente o comportamento do Presidente da República no caso dos abusos sexuais de menores no seio da Igreja”, considerando que Marcelo Rebelo de Sousa procurou “relativizar” a gravidade do comportamento de vários elementos da Igreja Católica.
Também através do Twitter a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, afirmou que “um caso que fosse era grave, muito grave e repudiável, quanto mais 400!”.