A procura das urgências hospitalares registou um pico nos últimos dias por doenças “aparentemente de gravidade relativamente reduzida”, mas suficientes para causar desequilíbrios que motivam o recurso a este serviço, alertou hoje o ministro da Saúde.
O Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH) denunciou que várias ambulâncias ficaram retidas na segunda-feira por falta de macas nas urgências do Hospital Garcia de Orta, em Almada, uma situação que se agravou na terça-feira.
Fonte do hospital adiantou à Lusa que “não há macas retidas” nas urgências, mas admitiu uma grande afluência de doentes nos últimos dias, uma situação agravada pelo grande número de pessoas que permanecem internadas após terem alta clínica, o que limita o número de camas disponíveis para internamento das pessoas que chegam pela urgência.
Segundo a mesma fonte, a urgência geral do centro hospitalar de Setúbal “está encerrada” a ambulâncias enviadas pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes “de dentro e fora da sua área” e a do Barreiro está “fechada para ambulâncias de fora de área”.
Questionado sobre esta situação à margem da Conferência “Valor Estratégico da Indústria Farmacêutica de Medicamentos Genéricos e Biossimilares”, o ministro da Saúde afirmou que se tem verificado nos últimos “quatro ou cinco dias” um “aumento da pressão”, por doenças como infeções respiratórias ou gastrointestinais, o que cria dificuldades ao funcionamento dessas urgências.
“Temos de ir lidando com esse tema para o ir suprindo progressivamente. Hoje foi anunciado pela Direção Executiva do SNS a adoção, para já, de um projeto-piloto (…) para tentar aliviar o recurso à urgência, criando alternativas às pessoas. É algo que temos que ir fazendo paulatinamente, porque este plano das urgências tem períodos de agudização, mas é verdadeiramente uma doença crónica do nosso Serviço Nacional de Saúde, que tem que ser resolvida com humanismo”, defendeu Manuel Pizarro.
Manuel Pizarro agradeceu a todos os profissionais de saúde que têm conseguido dar resposta aos doentes em serviços de urgência sobrelotados.
O governante lembrou que já no início do verão de 2022 tinha ocorrido um pico de procura das urgências, o que “parece estar a acontecer de novo nestes dias” e disse que as autoridades estão a monitorizar a situação para “procurar dar a resposta mais eficaz possível”.
“Nós temos de facto um problema de afluxo excessivo de pessoas à urgência e temos que dar boa resposta às necessidades dessas pessoas”, disse, sublinhando que a resposta “não é culpar as pessoas por ir à urgência”, mas, pelo contrário, “é criar alternativas” com que as pessoas se sintam confortáveis.
Manuel Pizarro destacou o projeto-piloto “Ligue antes, salve vidas”, apresentado hoje pela Direção Executiva do SNS no agrupamento de centros de saúde Póvoa de Varzim / Vila do Conde, “onde todas as pessoas têm equipa de saúde familiar e onde todas, ou quase todas, as unidades de saúde familiar são do modelo B”.
“Criámos um novo modelo de acesso aos cuidados de saúde, isto é, vamos tentar que as pessoas que vão à urgência sem motivo clínico para irem à urgência tenham consulta no próprio dia ou na manhã do dia seguinte e que seja marcado de forma simples”, explicou.
Questionado sobre quando o projeto vai ser alargado, o ministro afirmou: “Antes de tomarmos decisões sobre o alargamento aos outros locais do país, a nossa expectativa é que isso vá servir melhor as pessoas”.
O ministro acredita que as pessoas que recorrerem aos cuidados de saúde primários vão ser mais bem tratadas e, ao mesmo tempo, as que continuarem a ter que ir à urgência também vão ser mais bem tratadas, porque vai haver menos sobrelotação da urgência.