A seca continua a não dar tréguas em Portugal e os preços do azeite em Espanha atingiram valores recorde e, de acordo com as notícias da Sapo, após um intenso período de chuvas em dezembro e janeiro, a seca e os impactos na produção agrícola voltam a estar em destaque. Em Portugal, embora seja prematuro prever como se irá desenrolar a campanha da produção de azeitona, as perspetivas são preocupantes, afirmam alguns representantes do setor.
Segundo as previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), nos próximos dez dias, as temperaturas máximas no continente português irão aproximar-se dos 30 graus Celsius, com céu limpo. Isto numa altura em que 48% do território está, novamente, numa situação de seca fraca, moderada ou grave, com maior incidência no Alentejo.
Luís Seabra, presidente da Associação dos Agricultores do Ribatejo (AAR), explica que em Espanha as plantações de olival são maioritariamente de sequeiro, ou seja, em terrenos que não possuem nenhum sistema de rega ou aproveitamento de água, incluindo a água da chuva. Por isso, “quando estas áreas quebram [os níveis de produção], obviamente mexe com muita força com o restante mercado”, aponta.
Questionado se estas ondas de choque chegarão a Portugal, o responsável considera ser “prematuro determinar”, uma vez que só será possível avaliar as tendências da produção do olival a partir de maio. “É aí que se tiram as expressões deste ano. Tudo o que se mexe, nesta altura, é especulativo”, afirmou.
A Casa do Azeite partilha as mesmas preocupações, recordando que Portugal já “acumulou dois anos de seca” o que causa “alguma incerteza quanto ao que poderá acontecer à produção”.
“A campanha do ano passado foi muito afetada pelas condições meteorológicas, mas sobretudo pela contra-colheita. Tinha havido uma sobrecarga de produção de azeite na campanha anterior, o que costuma dar uma quebra na campanha seguinte, agravada pela seca”, diz Mariana Matos, secretária-geral da Casa do Azeite.
Para a responsável, embora seja muito cedo e esteja agora a começar a floração, a “situação é preocupante”, considerando que os sinais que vêm do país vizinho não são encorajadores. “A preocupação em Espanha é enorme, porque condiciona muito a produção mundial e o modelo de preços.” Segundo Mariana Matos, em 2022, “o preço do azeite no país de origem subiu mais de 50%” em Portugal em comparação com o ano anterior, uma realidade também influenciada pelo aumento dos custos de produção.
O secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) tem, no entanto, menos dúvidas. Segundo Luís Mira, o que está a acontecer em Espanha é uma realidade que muito provavelmente se vai replicar em Portugal.