Refugiados da Ucrânia que chegaram a Portugal, nomeadamente a Setúbal, foram recebidos no gabinete de apoio aos refugiados desta Câmara Municipal, liderada pelo PCP, por russos, que fotocopiaram documentos pessoais destes ucranianos e que fizeram perguntas como “onde está o seu marido e o que ficou ele a fazer?”, avança o Expresso.
Confessando o medo que voltaram a sentir após esta interação, uma refugiada afirma que estas mesmas pessoas lhe fotocopiaram o seu passaporte e a certidão das suas filhas.
De acordo com a mesma fonte, esta Linha Municipal de Apoio aos Refugiados tem como funcionária Yulia Khashina, esposa de um dos líderes da comunidade russa em Portugal, Igor Khashin, que desempenha qualquer função na Câmara, mas mesmo assim recebeu uma das ucranianas refugiadas, neste balcão de apoio.
A embaixadora da Ucrânia em Lisboa, Inna Ohnivets tinha alertado à cerca de um mês para “estas associações pró-russas, com uma ligação muito estreita à embaixada russa, podem receber informações sobre os dados pessoais destes refugiados e também sobre os familiares que participam no Exército ucraniano. E esta informação é interessante para a espionagem russa”, disse à CNN Portugal.
Nas redes sociais são muitas as vozes críticas que se levantam contra o PCP.
O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, defendeu esta sexta-feira que a primeira questão que se coloca no caso do acolhimento de refugiados pela câmara municipal de Setúbal é saber se “é um caso único”
Questionado pelos jornalistas no parlamento, Jerónimo de Sousa disse que, tanto quanto sabe, existe “um conjunto de câmaras que naturalmente são solidárias com os imigrantes, com os refugiados, sempre, mas sempre solidários com essas situações”.
O secretário-geral comunista defendeu que “a primeira pergunta que se coloca é de facto se isto é um caso único ou se existe uma generalidade de associações que são solidárias com os imigrantes”, após questionado se o PCP vai acompanhar os pedidos de audição no parlamento do presidente da Câmara de Setúbal anunciados por quase todos os partidos.
“Portanto não percebemos o enfoque em relação à câmara” de Setúbal, acrescentou.
Questionado se esta é uma questão sensível, dado que os dois países estão em guerra, o secretário-geral do PCP referiu que “aquela associação, aqueles que lá estão associados convivem bem uns com os outros”, ressalvando no entanto não ter “informações precisas”.
Já se esta situação pode prejudicar o PCP, Jerónimo disse desconfiar que “esse é o objetivo”.
“Mas que não é verdade, tendo em conta que existe por parte de diversas instituições essa solidariedade com aqueles que vêm para o nosso país”, defendeu.
Já se o Governo deverá esclarecer a situação, Jerónimo de Sousa disse que “sim, convém esse esclarecimento”.
“Mas eu acho que é possível esclarecer”, afirmou o secretário-geral comunista.
O presidente da Câmara Municipal de Setúbal, André Valente Martins, do Partido Ecologista “Os Verdes”, foi eleito pela lista da CDU (PCP/PEV/ID) nas últimas eleições autárquicas.
Antes de retomar o debate parlamentar sobre o Orçamento do Estado para 2022, Jerónimo de Sousa, acompanhado pela líder parlamentar, Paula Santos, e pelo deputado Bruno Dias, saíram do gabinete do Grupo Parlamentar do PCP, tendo-se cruzado nos corredores com os membros do Governo.