A ex-diplomata Ana Gomes e o empresário Mário Ferreira recusaram hoje fazer um “acordo” para acabar com o julgamento num tribunal do Porto onde a antiga eurodeputada está a ser julgada por alegada difamação ao dono da Douro Azul.
“A senhora doutora juiz propôs [um acordo], mas obviamente que nós não poderíamos aceitar qualquer tipo de desculpas que não fosse uma retratação completa da doutora Ana Gomes e ela não o quis fazer, por isso, terá de responder por tudo o que tem dito e feito sem qualquer fundamento”, afirmou Mário Ferreira aos jornalistas, à saída do Tribunal do Bolhão, no Porto.
Por sua vez, Ana Gomes disse que o julgamento continua e que não tem “pejo nenhum” em dizer que mantém “rigorosamente” tudo aquilo que disse.
A segunda sessão de julgamento, que opõe Mário Ferreira e Ana Gomes no Tribunal do Bolhão, no Porto, começou com cerca de uma hora de atraso devido a uma “tentativa de acordo” entre as partes impulsionado pela juíza.
A antiga eurodeputada Ana Gomes enfrenta acusações de difamação agravada ao empresário Mário Ferreira, na sequência de um longo contencioso entre ambos.
Em causa estão considerações sobre o empresário do grupo Mystic Invest/Douro Azul e da TVI, produzidas pela antiga embaixadora na estação de televisão SIC Noticias e na rede social Twitter, na sequência de investigações e buscas relacionadas com a subconcessão do Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) e de negócios de navios.
Reagindo a um ‘tweet’ do primeiro-ministro, António Costa, após participar em 07 de abril de 2019 no batismo do MS World Explorer (paquete construído nos ENVC por iniciativa do grupo Mystic Invest), a também ex-candidata presidencial lamentou que o chefe do Governo tratasse como grande empresário um “notório escroque/criminoso fiscal”, além de classificar a venda do ‘ferryboat’ Atlântida como “uma vigarice”.
Ana Gomes, que apontou ao empresário “muitíssimas e flagrantes contradições” entre o que disse em tribunal e foi dizendo na comunicação social ao longo de todo o processo, justificou manter tudo o que disse a seu respeito com base em “elementos que tem” e que reforçam essa sua convicção.
“A minha convicção baseia-se no caso que hoje foi aqui discutido, que é o caso Atlântida, mas em muitos mais elementos que tenho para manter essa minha convicção”, assumiu.
E acrescentou: “tenho muitos elementos”.
Já Mário Ferreira considerou uma “vergonha nacional” alguém com o currículo da antiga eurodeputada querer se “desgraçar com este tipo de vocabulário e ataques infundados”.
Prometendo “manter a elevação”, o dono da TVI considerou a situação “triste e lamentável”.
Contudo, vários outros episódios têm marcado o conflito entre ambos, um dos quais deu origem a uma queixa que empresas do universo de Mário Ferreira (Douro Azul, Mystic Cruises e Pluris Investments) apresentaram no Ministério Público do Peso da Régua contra a ex-diplomata por alegada ofensa a organismo, serviço ou pessoa coletiva.
Em causa estavam, aqui, declarações proferidas em abril de 2016 por Ana Gomes, em reação a um comunicado da Procuradoria-Geral da República a anunciar buscas e diligências no quadro da designada “Operação Atlantis”, relacionadas com a subconcessão dos ENVC e a venda do Atlântida ao grupo Douro Azul.
A queixa foi arquivada, mas foi alvo de recurso para o Tribunal da Relação de Guimarães.
Entretanto, Ana Gomes anunciou hoje que o recurso foi julgado improcedente, decisão que lhe foi comunicada na segunda-feira.
“A Relação de Guimarães comunicou-me que o recurso dele [Mário Ferreira] foi julgado improcedente, portanto, o tribunal mantém que não me julga”, asseverou.