A Polícia Judiciária suspeita que existem pelo menos 30 empresas no norte de Portugal a construir e vender “barcos da droga” (os chamados “narco-lançamentos”) utilizados pela máfia do tráfico galego.
Estes barcos são de borracha, ou barcos a motor semi-rígidos, com até quatro motores que podem levá-los a velocidades até 30 nós (60 km/hora).
Uma lei aprovada em Espanha, concebida para combater o tráfico de droga por mar, proibiu a construção de embarcações deste tipo em 2018.
Desde então, “muitos espanhóis e galegos começaram a aparecer nos organogramas das empresas de construção náutica na região do Minho”, escreve o Expresso.
A polícia suspeita que “a coberto de negócios legais em Portugal”, estas empresas estão “a aproveitar a oportunidade para equipar os narcotraficantes galegos com as embarcações de que tanto necessitam”.
Muitos dos barcos estão “escondidos em armazéns abandonados no norte e sul do país”, por vezes durante meses, diz Expresso.
Há dois anos, por exemplo, a PJ, a Polícia Marítima e a GNR desmantelaram uma “unidade de produção”… operando clandestinamente numa zona industrial em Faro – “um facto, até então, inaudito na região.
“Entre o final do ano passado e o início do mesmo, as autoridades encontraram vários barcos abandonados, suspeitos de pertencerem a redes de tráfico de droga. Nenhum deles tinha drogas dentro delas”, admite o Expresso.
“Ainda na última semana foram encontrados três (tais barcos) no Algarve: sempre que isto acontecer significa que a operação de descarga da droga terá corrido mal. Ou isso, ou problemas no motor ou outra falha fez desta viagem a sua última”.
“Os traficantes não tendem a reparar os seus barcos”, explica uma fonte policial. “Preferem abandoná-los, porque são pesados, e transportá-los por terra é difícil”.
O PJ acredita que “no mesmo armazém”, perto da fronteira entre Portugal e a Galiza, existem várias empresas de construção naval “coexistindo juntas” e fazendo ‘lançamentos de narcóticos’ para os traficantes de droga.
A polícia quer que Portugal siga o exemplo de Espanha e simplesmente torne ilegal o fabrico de barcos a motor deste tipo. Entende-se que o Ministério da Justiça já criou uma “task force” para elaborar a redacção de uma proposta de lei.
Mas entretanto, enquanto as autoridades não tiverem “provas concretas” do que se está a passar em Portugal, não poderão “avançar”.
“Não podemos fazer nada a menos que possamos provar o propósito ilícito (destas empresas náuticas)”, disse Avelino Lima, coordenador da unidade de tráfico de droga da PJ ao jornal galego A Voz da Galiza. “Temos de ser capazes de provar que os barcos não são para a pesca desportiva regular… e isto não é fácil”.
Três empresas estão particularmente sob os holofotes neste momento, diz Expresso. Uma está no Minho (e tem dois directores espanhóis na direcção); uma está na Grande Lisboa – e outra está “na região ocidental” (Costa Vicentina?).
“Nenhum dos responsáveis quis dar declarações sobre os seus negócios em Portugal ou com a Galiza”, acrescenta o jornal.