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Famalicão: Centenário de Cesariny celebrado com teatro, música e debates na Fundação Cupertino de Miranda

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A Fundação Cupertino de Miranda vai promover até domingo uma série de iniciativas destinadas a homenagear o poeta surrealista Mário Cesariny, no âmbito do seu centenário, que inclui teatro, concerto, leitura de poesia e oficinas de expressão plástica.

As atividades, que têm início na quinta-feira, enquadram-se no programa “Mário Cesariny – Encontros XVII”, que decorre na Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, detentora do legado do mestre do surrealismo português, indicou a fundação, em comunicado.

Com uma periodicidade anual, estes encontros realizam-se sempre aquando da data da morte de Mário Cesariny, 26 novembro, mas este ano visam assinalar também o centenário do nascimento do poeta e pintor (09 de agosto de 1923).

Nesse contexto, vão decorrer ao longo de quatro dias, como habitualmente, oficinas de expressão plástica, lançamento de livros e declamação de poesia, mas também um espetáculo teatral que evoca a vida e obra de Mário Cesariny, “Herói é o Meu Nome”, da Fértil Cultural, e o concerto “O Homem em Eclipse”, d’Os Poetas, concebido por Rodrigo Leão e Gabriel Gomes, dedicado à sua poesia.

Este ano, os Encontros integram também o “CARMINA 4 – A Paixão da Imagem”, um evento dedicado à poesia, que nesta edição se debruça exclusivamente sobre Mário Cesariny, com coordenação de Fernando Cabral Martins.

A quinta-feira será preenchida com leitura de poesia e com a exibição de dois filmes de Miguel Gonçalves Mendes, “Autografia” (2004) e “Poema Colagem” (2010).

Na sexta-feira, o dia é dedicado ao “CARMINA 4”, com mesas redondas subordinadas às temáticas “Imagem”, “Arte”, “Poesia” e “Poética”, nas quais participa um painel de convidados, que conta com nomes como Perfecto E. Quadrado, João Pinharanda, António Gonçalves, Pedro Eiras, Golgona Anghel e Tania Martuscelli, entre muitos outros.

A manhã de sábado dá continuidade ao programa do dia anterior, com um “encontro” entre Mário Cesariny e Fernando Pessoa, promovido pelos palestrantes António Feijó, Richard Zenith e Fernando Cabral Martins.

À tarde sobe ao palco “Herói é o meu nome”, o espetáculo escrito e encenado a partir da poesia de Mário Cesariny, que mistura teatro, música e performance.

“‘Herói é o Meu Nome’ é uma apropriação da sua vida e obra e a sua transformação num ato performativo multidisciplinar que cruza a poesia, a música, a manipulação de objetos, sombras e muito mais. Talvez uma colagem, talvez um ‘cadavre exquis’. Acima de tudo é um ato de homenagem a um artista que nunca deve ser esquecido”, destaca a Fértil Cultural.

Partindo do tópico da memória como contraponto ao esquecimento para a construção do espetáculo, a Fértil Cultural mergulhou no espólio documental de Mário Cesariny, disponível na Fundação Cupertino de Miranda/Centro de Estudos do Surrealismo, fiel depositária da obra e da biblioteca pessoal do autor.

Em palco, o público vai poder ver, além dos intérpretes, elementos cenográficos e adereços múltiplos “numa combinação bizarra” a compor uma atmosfera que ajude o espectador “a entrar num universo surrealista”, mas também ouvir poemas cantados, num espetáculo que é também um “puzzle musical”, cujas peças podem encaixar “de forma surreal”.

Ainda nesse dia haverá uma sessão de lançamento dos livros “Poesia de Mário Cesariny. Antologia” e “Poetas do Amor, da Revolta e da Náusea”, editados pela Assírio e Alvim, e “Mário Cesariny, Cartas para Antonio Tabucchi”, editado pela Documenta.

O programa encerra no domingo à tarde com o concerto “O Homem em Eclipse”.

Mário Cesariny de Vasconcelos possibilitou a incorporação, quer por compra, doação e legado de uma grande parte do seu acervo artístico e documental à Fundação Cupertino de Miranda.

Nascido em Lisboa, Mário Cesariny de Vasconcelos estudou na Academia de Amadores de Música, sob a orientação do professor Fernando Lopes Graça, e ingressou no princípio da década de 1940 na Escola de Artes Decorativas António Arroio, onde conheceu, entre outros, Fernando José Francisco e Cruzeiro Seixas, que o acompanharam na aventura surrealista.

Foi protagonista de muitas ações e criações polémicas com os outros artistas surrealistas, mas a partir do início dos anos 1950 o grupo começou a desintegrar-se.

Cesariny manteve-se ativo na poesia, nas artes plásticas e na tradução, passando a conviver com Luís Pacheco, Manuel de Lima, António José Forte, João Rodrigues, Manuel Castro, João Vieira e Helder Macedo.

“Titânia”, “Pena Capital”, “Antologia do Cadáver Esquisito” e “Planisfério e Outros Poemas” são alguns exemplos da sua obra poética ao longo dos anos 1950 e 60, mas continuou também a realizar exposições individuais e coletivas em Portugal, Brasil, Bélgica, Estados Unidos.

Recebeu vários prémios pela obra escrita e plástica, nomeadamente o Prémio Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores, e o Grande Prémio EDP de Artes Plásticas.

Mário Cesariny morreu em 26 de novembro de 2006.

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