Depois de se ter tornado no primeiro submarino convencional e português a navegar debaixo do gelo Ártico, o Arpão regressou, esta quarta-feira, a Portugal e à sua guarnição juntou-se o ministro da Defesa, que ali pernoitou nas últimas horas de missão.
Em abril, o Arpão zarpou da Base Naval de Lisboa, situada em Almada, no distrito de Setúbal, e passados 78 dias os cerca de trinta militares regressaram ao mesmo local, mas desta vez com mais companhia a bordo.
Foi na torre do submarino, no topo, que o ministro da Defesa, Nuno Melo, chegou à base naval, munido de um anoraque impermeável da Marinha e ladeado pelo chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Gouveia e Melo, e pelo comandante do submarino, Taveira Pinto.
Depois de no verão do ano passado o ter estado 120 dias numa missão no Atlântico Sul, na primeira vez que um submarino nacional cruzou a linha do Equador, desta vez a Marinha quis mostrar aos aliados as suas capacidades de operar num cenário oposto, debaixo de gelo, tendo sido a primeira vez que um submarino convencional (ou seja, não nuclear) e português navegou debaixo do gelo no Ártico.
A operação debaixo de gelo durou quatro dias, entre 28 de abril e 05 de maio, e contou na altura com a presença do chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Henrique Gouveia e Melo, que fez a sua carreira na Marinha como submarinista.
Além deste feito, o submarino Arpão participou também no Atlântico Norte na operação ‘Brilliant Shield’, da NATO, que visa promover a vigilância e garantir a segurança da área de responsabilidade dos Aliados.
Na cerimónia de chegada, na qual os militares foram condecorados, o ministro da Defesa Nacional agradeceu “a oportunidade” que teve de “embarcar, submergir e pernoitar no Arpão”, “o privilégio” de ter partilhado durante 15 horas “um bocadinho do tempo longo desta extraordinária missão com o comandante e guarnição do Arpão” e enalteceu o “feito notável” da Marinha.
“Aquilo a que assistimos aqui também é uma demonstração a Portugal inteiro e ao mundo da importância da arma submarina num país que é Atlântico, que tem um mar extenso e que nesta avaliação não pode a arma submarina deixar de ser enaltecida no enquadramento que é de toda a Marinha portuguesa”, realçou Nuno Melo.
Para o governante, esta capacidade “é indispensável quando assistimos a uma crescente presença de meios navais da Federação Russa no Atlântico, obrigando-nos a permanecer vigilantes e preparados”, salientando que o feito em causa “alterou paradigmas”.
“Pela primeira vez um submarino convencional no Ártico conseguiu o desempenho numa missão que só foi tentada e alcançada por submarinos nucleares [dos EUA, Reino Unido e Rússia]. Portugal nisso é um exemplo e a Marinha tem que ser enaltecida”, sublinhou.
Sobre a participação na missão da NATO, o governante defendeu que “demonstra o firme empenho de Portugal na segurança coletiva” e o “contributo vital” do país para a segurança no Atlântico.
Nuno Melo, cuja passagem pelo serviço militar foi no Exército, confessou que não se sentiu “nada mal junta da Marinha” e realçou que foi “o primeiro ministro da Defesa a pernoitar num submarino” tendo estado por vezes submerso a 150 metros.
O comandante da missão, Taveira Pinto, explicou que “a grande particularidade” de navegar debaixo do gelo Ártico é o facto de os militares terem “um teto de gelo por cima das cabeças”, sendo impossível emergir em caso de emergência como acontece quando o submarino se encontra em mar aberto.
Além disto, “a densidade de água altera, o perfil de propagação do som na água altera e as temperaturas na água” são também diferentes, explicou o comandante, que manifestou um sentimento de “dever cumprido” e um “grande orgulho” na sua guarnição.
Entre os alunos do curso de submarinista que acompanhou a guarnição estava o engenheiro naval Daniel Santos Baptista, de 24 anos, que relatou “uma experiência única e sem palavras”.
Mais experiente, a sargento Paula Oliveira, 39 anos, foi responsável pelo sistema de combate – “os olhos e ouvidos para o exterior” do submarino quando está submerso – e manifestou um sentimento de “missão cumprida”.
Visivelmente emocionada, a sargento foi logo de seguida ao encontro da filha de quatro anos, Vitória, que a esperava para o desejado abraço.