A Casa das Artes, em Vila Nova de Famalicão, acolhe esta sexta-feira a estreia da peça de teatro “Uma rua de cada vez”, um texto de Mariana Correia Pinto centrado na crise da habitação, anunciou esta quarta-feira aquele equipamento.
Em declarações à Lusa, a autora, a jornalista Mariana Correia Pinto, explicou que a peça foi construída a partir de uma história real, por ela escrita em 2020, enquanto jornalista.
Nessa reportagem, Mariana Correia Pinto contou a história de uma moradora que recusou uma oferta milionária de dois “investidores” por uma “ilha” no Porto, com 12 pequenas casas, que herdara do pai.
“Maria de Fátima rasgou o cartão de contacto que os investidores lhe deixaram para respeitar o legado do pai, disponibilizando habitação a preços justos”, contou.
Foi com base nesta história real que escreveu “Uma rua de cada vez”, peça que alude ainda a outros protagonistas de reportagens de Mariana Correia Pinto, como uma jovem desiludida com o país que encontra um passado inesperado e procura o seu lugar no mundo, e um homem que se descobre a si mesmo perante o confronto com os mais banais dilemas humanos.
A peça reflete, assim, muitas das “inquietações” que foram invadindo a autora durante as suas reportagens – como “podem os pequenos gestos começar revoluções?” ou “pode a democracia sobreviver se esquecermos o bem comum?” – e assume-se como uma reflexão acerca dessas questões.
Até onde resistem as convicções quando põem em causa o nosso bem-estar ou privilégio?, interroga também a peça, que leva ainda a refletir sobre se há lugar para o individualismo na luta por um mundo melhor.
“Achei que a história de Maria de Fátima e de outras pessoas que fui ouvindo mereciam chegar ao teatro, porque o teatro toca na emoção, é um instrumento muito importante para contar histórias”, afirmou Mariana Correia Pinto.
A peça evoca assim a “herança de Abril” e transporta-a para os dias de hoje.
“Uma rua de cada vez” tem encenação de António Durães e Luísa Pinto, que também interpreta, e o elenco conta ainda com Cláudio Henriques e Gabriela Amaro. A música de cena é de Cristina Bacelar.
A peça estreia-se na sexta-feira e sobe novamente ao palco da Casa das Artes no sábado, Dia Internacional da Mulher, seguindo depois para uma digressão nacional, com apresentações já marcadas para Estremoz (15 de março), Lisboa (29 de março), Moita (05 de abril), Bragança (16 de abril) e Lousada (06 de junho).
Com uma duração de cerca de duas horas, é uma coprodução da Narrativa Ensaio e da Casa das Artes.
“Uma rua de cada vez” é a segunda peça de Mariana Correia Pinto, que se estreou na escrita para palco em 2022 com “Anónimo não é nome de mulher”.