Famalicão
Joane: Padre famalicense no Vaticano emite nota de pesar pela morte de jovem na A3
A morte recente de um jovem de 22 anos, natural de Joane, que no último sábado foi colhido por um veículo na A3 quando tentava ajudar outro condutor acidentado teve eco no Vaticano, pela mão do Padre Mário Rui de Oliveira, ministro do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica no Vaticano.
No momento a residir em Roma, este padre, divulgou nas redes sociais um voto de pesar pela morte deste jovem seu conterrâneo e da sua família, que ainda lembra dos tempos em que habitava esta freguesia de Famalicão.
Com uma mensagem de esperança e fé, o Padre Mário Rui Oliveira debruça-se sobre a relação entre mãe e filho e sobre o sofrimento sentido quando este elo é quebrado.
Texto:
A MÃE E O SEU FILHO
“Não conheci o Luís Meira. Soube da sua existência demasiado tarde, por causa da sua morte. Parece que frequentou a escola com os meus sobrinhos. Não o conheci, portanto, mas conheci a sua mãe, a Lurdes, que foi minha colega de turma nos bancos da escola primária. Ainda recentemente a reconheci olhando para uma dessas velhas fotografias que nos tiravam na primária e que hoje nos comovem, fazendo-nos sorrir, quando as reencontramos, esquecidas, num qualquer álbum de fotografias. A vida tratou de nos separar e cada um seguiu os seus caminhos. Nunca mais soube da Lurdes até que um dia a sua mãe, no fim de uma celebração eucarística em Joane, me pediu, chorando, que rezasse pela sua filha que estava mal de saúde. A notícia desta tragédia, da Lurdes e do seu filho, é como um relâmpago num céu sereno e é ainda mais terrível porque muito próxima do Natal onde não deveria haver lugar para o sofrimento, mas apenas alegria, amor e o afeto da família. É ainda mais terrível porque a mãe, a Lurdes, combate com “um mal ruim” e nada parece fazer sentido e as dúvidas nos assaltam e a raiva contra a vida se apodera de nós e sentimos que Deus nos deve uma explicação e que não é justo e que não tem perdão. É nestes casos que deveríamos calar e fazer silêncio, mas é também nestes momentos que se impõe uma palavra para tentar dar sentido a esta lancinante “Pietà” dos nossos tempos, ao não sentido, e iluminar a noite gélida e escura com a luz da fé. A fé cristã não dá remédios para o sofrimento humano. Aquele outro Homem nos braços de Sua mãe não escapou à morte infamante e injusta da cruz. Morreu completamente. Morreu injustamente. O céu se rasgou em desespero e nenhum olhar humano teve coragem de se deslocar até ao lugar onde estava a Sua mãe. Uma mãe morre duas, mil vezes, na morte de um filho. O sofrimento é sem porquê, como o amor, a gentileza, o altruísmo, a rosa. O que a fé em Jesus possibilita é um uso sobrenatural do sofrimento. Não há remédio para o sofrimento, mas o sofrimento é uma escola para todos. Jesus cobriu o sofrimento com o amor, deu-lhe um uso sobrenatural. Por isso Ele é o Salvador, o Vivente, o Ressuscitado.Sempre que me deparo com uma morte trágica (e não são todas assim?) refugio-me no silêncio e na oração. Penso em todos, especialmente nas mães, na família e nos amigos jovens do Luís, tão desorientados e exigindo respostas. Hoje vemos tudo como num espelho baço e não compreendemos nada. Um dia, em Deus, veremos tudo com os olhos de Deus e tudo encontrará um novo sentido. Um abraço querido Luis e obrigado pelo teu gesto de amor e pela tua vida. Para a Lurdes Meira e sua família a certeza das minhas orações e comunhão espiritual.”
P. Mário Rui de Oliveira – 05/01/2021
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