Economia
Empresas em Portugal preveem aumentos salariais em 2023 abaixo da inflação
As empresas em Portugal estimam aumentos salariais abaixo da inflação no próximo ano, prudência na contratação e dificuldade na retenção de talento, segundo o estudo “Total Compensation 2022” desenvolvido pela Mercer e hoje divulgado.
Na edição deste ano do estudo foram analisados 160.076 postos de trabalho de 527 empresas estabelecidas no mercado português, sendo que a amostra é constituída maioritariamente por empresas multinacionais (56%) com a casa-mãe, especialmente localizada nos Estados Unidos, em 15% dos casos, e na Alemanha, em 9%.
De acordo com a Mercer, o contexto geopolítico e o seu impacto a nível económico, com a escalada da inflação, tem tido impacto nas empresas e condicionado a tomada de decisão das empresas.
“Maior incerteza face à contratação de novo talento/aumento de ‘headcount’, mais dificuldade em reter talento e salários, em geral, mais elevados são alguns dos reflexos deste enquadramento”, lê-se no comunicado que dá conta das conclusões do estudo ‘Total Compensation 2022’ desenvolvido pela Mercer.
“A previsão média para os incrementos salariais para 2023 ronda os 2,8%, o que se traduz numa ligeira subida de 0,5% face ao perspetivado em 2021 para 2022 (2,3%)”, lê-se no comunicado.
Ou seja, “apesar de se observar um aumento, este é insuficiente para acompanhar a escalada da inflação, podendo traduzir-se numa perda de poder de compra para os colaboradores”, afirma Tiago Borges, ‘career business leader’ da Mercer Portugal, citado no comunicado.
“No cenário de consolidação das taxas de inflação em níveis elevados, o tema dos incrementos salariais e da sua capacidade de responder a este contexto será certamente um desafio a enfrentar pelas empresas em Portugal no curto prazo”, acrescenta.
Já no que respeita à contratação, o estudo apresenta “um cenário onde cerca de 43% das empresas assumiram aumentar o seu número de colaboradores ainda este ano, mas apenas 31% assumem, para já, manter esse crescimento para 2023”, afirma, por sua vez, citada no comunicado, Marta Dias, ‘rewards leader’ da Mercer Portugal.
Mais de metade (53%) das empresas “assumem ter dificuldade em reter profissionais, os salários em geral aumentaram face ao ano anterior e a situação macroeconómica parece não transmitir às organizações confiança para planear e assumir o crescimento a médio prazo”, aponta.
A variação salarial positiva é, ao nível operacional, alavancada pela subida do salário mínimo nacional.
“É importante salientar que esta se observa para todos os níveis de responsabilidade, observando-se uma subida geral em média de 5% face a 2021. Adicionalmente, em áreas particularmente ‘aquecidas’, como as tecnologias de informação, esta variação é ainda mais relevante, crescendo cerca de 18% em dois anos”, lê-se no documento.
Em termos de benefícios, o apoio à formação tem vindo a ganhar importância nas empresas, com mais de metade (57%) das participantes no estudo a assumir a comparticipação das despesas associadas à educação dos seus colaboradores (em 2021 eram 46%).
Sobre os bónus de referência (contexto de novos recrutamentos), o estudo refere que estes têm vindo a tornar-se numa prática relevante, com mais de um terço (35%) das empresas (23% em 2021) a adotar esta prática.
Segundo o estudo, mais de três quartos (83%) das empresas faz uma revisão salarial anual.
“A segunda tendência mais comum é revisão salarial sem períodos estabelecidos, feita por 10% das entidades inquiridas” e “as restantes empresas fazem-na duas vezes (5%) ou três ou mais vezes por ano (2%)”, sendo que “os meses preferenciais para a revisão salarial são janeiro, abril e março (29%, 15% e 13%, respetivamente)”, de acordo com o estudo.
Os principais benefícios que as empresas oferecem aos trabalhadores são: plano médico (90% das organizações), das quais 70% abrange a cobertura do plano ao cônjuge e filhos dos colaboradores; política automóvel (88%); seguro de vida (70%); descontos em produtos da empresa (59%); cobertura de despesas associadas à educação (57%); e dias de férias adicionais aos previstos por lei (54%).
A amostra do estudo é representativa dos principais setores de atividade do tecido económico nacional, sendo que 67% desta inclui empresas dos setores de serviços generalistas, indústrias de produção, indústria farmacêutica, grande distribuição e retalho, bens de consumo, tecnologias de informação.
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