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Paulo Marques: Novas tecnologias e mais “profissionalismo” são as grandes diferenças do “novo” Dakar

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O português Paulo Marques regressou este ano como navegador na 47.ª edição do Rali Dakar de todo-o-terreno, 18 anos depois da última participação, para encontrar uma prova “mais profissionalizada”.

“Além da geografia, o Dakar mudou muito. Antes, havia um amadorismo muito grande por parte dos participantes. Qualquer oficina montava um carrinho ou uma mota para vir ao Dakar. Eu cheguei a montar motas na minha oficina em Famalicão. Isso, hoje em dia, é impensável. Os percursos são mais exigentes, as etapas são mais técnicas, a navegação é mais difícil”, sustentou Paulo Marques, que participou pela primeira vez na edição de 1994, de mota.

O famalicense, atualmente com 62 anos – estreou-se com 31 -, foi o primeiro português a vencer uma etapa nas duas rodas, na edição de 1997.

“Obviamente que não tinha a experiências dos últimos Dakares na Arábia Saudita, nem tão pouco com a navegação atual. Processa-se de forma diferente. Nós recorríamos a ‘roadbooks’ em papel, tínhamos de os marcar diariamente. Eles [organização] facilitaram esse trabalho, com recurso a um tablet digital. O ‘roadbook’ já vem marcado, só precisamos de um código para aceder à rota do dia. Isso facilita bastante. Mas dificultaram por outro lado, porque a navegação é bastante difícil. Tem havido muita gente a perder-se”, nota Paulo Marques, que navega para o piloto japonês Yoshio Ikemachi um carro com motor de combustão interna mas movido a hidrogénio.

Paulo Marques participa integrado na categoria Mission1000, com mais quatro equipas – uma de camião e três de mota.

“Acabei por vir fazer um trabalho com uma responsabilidade acrescida no projeto, porque muitas vezes estamos a abrir a pista. Nas motas, isso nunca me acontecia. Quando ganhei a etapa, foi quase na última e, no dia seguinte, já não tive de abrir a pista, pois partimos todos lado a lado”, recorda.

O famalicense, que entre 1994 e 2007 não falhou uma única edição, entre motas (12) e carros (duas), nota que “se perdeu algum do romantismo”.

“Nunca tinha tido problemas para visitar as equipas das motas, tudo era à vista. Agora está tudo fechado na sua tenda, tendas fechadas, ninguém vê o que ali está. Há aqui um certo secretismo. É uma competição muito acesa. Todas as marcas querem ganhar o Dakar e há uma competitividade muito grande entre as equipas e esse encanto da aventura ficou um pouco para segundo plano”, sustenta.

Segundo Paulo Marques, a dificuldade também aumentou.

“Nos primeiros Dakares faziam-se 500 ou 600 quilómetros por etapa mas era tudo muito a direito por África abaixo, com dificuldades devido às horas em cima das motas mas com etapas não tão técnicas. Hoje em dia as motas são ligeiras, fáceis de conduzir e eles [organização] obrigam os pilotos a fazerem coisas incríveis, a passar dunas quase impossíveis, trialeiras. As motas estão mais apropriadas, assim como os carros, que têm cursos de suspensão longos”, nota.

Por isso, ainda não percebeu se a prova evoluiu “no bom sentido”.

“Não sei. É como os ralis. Evoluíram de forma fantástica, as pessoas adoram ir ver os ralis mas quem é que consegue chegar a um WRC? Só as fábricas”, frisa.

Paulo Marques recorda que, no Dakar em África, chegou a haver mais de 250 motas inscritas. “Neste momento, são 130. Há tanta dificuldade. Uma mota para fazer esta prova custa, hoje em dia, 27 ou 28 mil euros só a mota. Um automóvel da categoria T1+ custa 800 mil ou um milhão de euros. É muito dinheiro. Num SSV, paga-se 300 mil euros”, indica, salientando que “é verdade que o Dakar evoluiu mas os valores também evoluíram”.

“Acaba por haver menos concorrentes porque isto ficou tão caro… É uma especialidade muito específica. Cada vez mais temos os pilotos do Dakar e os outros”, acredita Paulo Marques.

Pese embora “não haja ninguém nas pistas a ver passar os concorrentes”, o antigo piloto acredita que a Arábia Saudita “tem as condições ideais” para acolher a prova. “Nunca tivemos estas condições nos Dakares antigos, com os balneários, o pavilhão das refeições, etc, etc, que não tínhamos no Senegal, no Mali, em Marrocos.

Hoje em dia dorme-se em autocaravanas, na altura dormia em tendas.

Isto vai chegar a um ponto em que só mesmo para profissionais”, acredita Paulo Marques.

O português ocupa o segundo lugar da categoria, com 75 pontos, a 15 da equipa espanhola do camião KH7.

Imagem: rally74r/DR

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